Ministro Flávio Dino aciona polícia contra postagens que ligam protestos nepaleses a desejos de insurreição contra o STF, reacendendo debates sobre limites da liberdade de expressão em tempos de polarização política.

Brasília, 12 de setembro de 2025 – Imagine digitar no celular um elogio aos jovens nepaleses que derrubaram um primeiro-ministro com protestos furiosos contra a censura digital e a corrupção. Agora, adicione uma pitada de frustração com o Supremo Tribunal Federal (STF). No Brasil de hoje, isso pode não ser só um desabafo: pode ser o gatilho para uma investigação federal. O ministro Flávio Dino, do STF, protocolou na quarta-feira (10) uma representação à Polícia Federal (PF) pedindo apurações sobre milhares de postagens nas redes sociais que incentivam “ataques letais” a ministros e à sede do tribunal, muitas delas aludindo à turbulenta revolta no Nepal. A medida, que promete inquérito aberto nesta sexta (12), divide opiniões: para uns, é defesa da democracia; para outros, o prenúncio de uma censura que sufoca vozes dissidentes.

O contexto explode em plena reta final do julgamento histórico no STF, que condenou o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e mais sete réus a penas que somam décadas de prisão por tentativa de golpe de Estado. A Primeira Turma do tribunal formou maioria nessa quinta (11), com votos de Dino e Alexandre de Moraes pela condenação de Bolsonaro a 27 anos e três meses em regime fechado – uma decisão inédita que ecoa como terremoto na política brasileira. Nas redes, a resposta foi imediata e inflamada, especialmente em bolhas da direita: grupos de WhatsApp e perfis no X (antigo Twitter) fervilham com referências ao Nepal, país asiático onde protestos liderados por jovens culminaram na renúncia do primeiro-ministro KP Sharma Oli na terça (9). Lá, a faísca foi uma proibição governamental às redes sociais, aliada a denúncias de corrupção e desemprego crônico – males que, para muitos brasileiros, soam familiares. Ao menos 30 mortes foram registradas nos distúrbios nepaleses, transformando o episódio em símbolo global de resistência à opressão digital.

“Entre os traços que chamam atenção, há uma constante alusão a eventos ocorridos no Nepal, o que parece sugerir uma ação concertada com caráter de incitação”, escreveu Dino na representação, destacando postagens que vão de desejos velados de “revolta similar no Brasil” a ameaças explícitas contra ministros e familiares. A plataforma de monitoramento social Palver, que rastreia cerca de 100 mil grupos públicos no WhatsApp, registrou o primeiro pico de menções ao tema no domingo (7), Dia da Independência, saltando para o auge na quarta (10), com milhares de interações. Exemplos não faltam: perfis conservadores postam “Só a lei do Nepal para dar jeito nesse Brasil de corruptos” ou “Olha pro Nepal, também passamos dos limites de tanta corrupção e tirania!”, ecoando o sentimento de revolta contra o que chamam de “perseguição judicial”.

O Nepal, um reino himalaio de 30 milhões de habitantes, viveu sua maior crise em anos. Motivados por uma lei que bania o TikTok e outras plataformas por “ameaçar a soberania nacional”, jovens saíram às ruas de Katmandu, misturando gritos contra a elite política a demandas por empregos e transparência. A renúncia de Oli, após semanas de caos, foi celebrada como vitória da juventude conectada – mas aqui no Brasil, o paralelo acende alertas. “Disseram que eu ia para o Nepal”, ironizou Dino em entrevista recente, referindo-se a ameaças que o obrigaram a acionar a PF. “Isso ganha materialidade quando vira incitação coletiva.” A PF confirmou que abrirá inquérito nesta sexta, focando em perfis que cruzam a linha entre opinião e apologia à violência.

Mas o outro lado da moeda é o que torna essa história polêmica: o risco de calar dissidências. Juristas e ativistas de direitos digitais alertam que monitorar “elogios” a protestos estrangeiros pode escorregar para uma caça às bruxas, especialmente em um país onde o STF já determinou bloqueios de contas e remoções de conteúdo por “fake news”. “É uma linha tênue entre proteger a integridade do Judiciário e vigiar o pensamento”, opina o professor de Direito Constitucional da USP, Ricardo Leite, em contato com esta reportagem. “O Nepal protestou contra censura; ironia se o Brasil usar isso para censurar.” De fato, posts no X mostram não só fúria, mas um apelo por “justiça nas ruas”, com um usuário ironizando: “Brasil vai virar um Nepal e não será pela direita. Será pela própria esquerda que cava seu buraco.”

O desdobramento é incerto, mas o impacto já é palpável. Com o julgamento do “Núcleo 1” da trama golpista concluído, o STF enfrenta não só recursos jurídicos, mas uma onda de descrédito nas redes – e agora, possivelmente, uma enxurrada de ações judiciais de usuários investigados. Grupos bolsonaristas, como o “Brasil Conservador”, multiplicam convocações para “não parar até 1 milhão” de assinaturas em petições contra a “Suprema Perseguição”. Enquanto isso, Dino e colegas recebem proteção reforçada, e a PF intensifica varreduras digitais. Em um Brasil polarizado, onde o 8 de janeiro de 2023 ainda sangra na memória coletiva, a pergunta ecoa: até onde vai a liberdade de expressar revolta sem virar réu?

A resposta, talvez, venha das ruas – ou das telas. Por enquanto, o Nepal serve de espelho incômodo: um lembrete de que redes sociais podem incendiar nações, mas também de que o fogo, mal controlado, consome a todos.

Por Redação do GazetaMetropolitana.com

By contato@gazetametropolitano.com

Nascido em 1977, em Jundiaí, e cresceu em Cajamar, Alexsandro Assis é capelão, mentor e marceneiro com alma artesã. Formado em marcenaria, lecionou o oficio em Cajamar e, movido pela paixão por história e fé cristã, estuda arqueologia bíblica e teologia. Professor de computação e estudante de Tecnologia da Informação, também é jornalista, fundador do grupo Cajamar Quociente e do portal Gazeta Metropolitana, onde aborda notícias regionais e globais com perspectiva conservadora. Guiado por fé, estoicismo e amor transformador, Alexsandro inspira vidas com seu lema "Viva com propósito". Acompanhe-o no Instagram (@assis_alexsandro) ou em gazetametropolitana.com.

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