Moradores estouram balões simbólicos em gesto de acolhimento e conscientização sobre suicídio, unindo suor e lágrimas em noite de transformação coletiva
Cajamar, 24 de setembro de 2025 – Em uma terça-feira que misturou ritmos acelerados com silêncios profundos, dezenas de moradores de Cajamar transformaram o Ginásio de Esportes de Jordanésia em um palco de cura. O Aulão de Dança “Setembro Amarelo”, realizado na véspera, reuniu a comunidade para uma sessão de bem-estar físico e emocional, destacando a importância da prevenção ao suicídio e da valorização da vida. O evento, parte do calendário nacional de sensibilização, foi organizado pelo projeto Movimenta Cajamar em parceria com o Fundo Social de Solidariedade do município.

O Setembro Amarelo, campanha anual que ganha força desde 2015 no Brasil, busca romper o tabu em torno da saúde mental. Segundo dados do Ministério da Saúde, o país registra cerca de 12 mil suicídios por ano, com a depressão e a ansiedade como fatores agravantes em mais de 90% dos casos. Em Cajamar, uma cidade de pouco mais de 80 mil habitantes na região metropolitana de São Paulo, iniciativas como essa ganham relevância ao aproximar o debate da rotina local. “Queremos mostrar que falar sobre dor não é fraqueza, mas o primeiro passo para a força”, explica Ana Paula Silva, coordenadora do Movimenta Cajamar, que atraiu cerca de 150 participantes na noite do dia 23.
O aulão começou ao som de batidas contagiantes, com coreografias que variavam de ritmos latinos a passos contemporâneos, guiados por instrutores voluntários. Risadas ecoavam enquanto braços e pernas se moviam em sincronia, promovendo não só o exercício, mas uma sensação imediata de conexão.

Mas o clímax veio em um momento de pausa reflexiva, que elevou o evento de diversão para catarse. Cada participante recebeu um balão amarelo – cor símbolo da campanha – e foi convidado a escrever, com caneta preta, o sentimento ou experiência que mais o havia ferido na vida. Podia ser uma perda, uma traição, o estresse acumulado ou o luto não processado. Em seguida, sob as luzes suaves do ginásio, estouraram os balões com um estalo uníssono, liberando pedaços de papel como confetes de alívio simbólico. O gesto culminou em um abraço coletivo, promovendo escuta ativa e acolhimento mútuo. “Senti um nó se desfazendo no peito. Estourar aquele balão foi como soltar um grito.

Não foi um gesto isolado. O Movimenta Cajamar, lançado em 2023 como iniciativa municipal para fomentar atividades esportivas inclusivas, já promoveu mais de 20 eventos semelhantes este ano, alcançando cerca de 2 mil pessoas. A parceria com o Fundo Social garante acessibilidade total – entrada gratuita, transporte facilitado para bairros.
Estudos da OMS mostram que intervenções comunitárias podem cortar em até 20% as taxas de ideação suicida”, afirma ela.
O impacto se estende além da noite. Participantes saíram com panfletos informativos sobre linhas de apoio, como o CVV (Centro de Valorização da Vida), disponível 24 horas pelo telefone 188, e o site do Setembro Amarelo para recursos online. Para os organizadores, o aulão é apenas o começo: planejam replicar o formato em outubro, integrando-o a um calendário anual de saúde mental. “Cajamar está se movendo não só os corpos, mas as mentes. Essa é a essência do projeto”

Em um mundo acelerado onde o amarelo do Setembro Amarelo brilha como farol, eventos como esse lembram: a prevenção começa com um passo – ou um estalo de balão. Você não está só. Se a dor apertar, estenda a mão. A comunidade, e profissionais, estão prontos para ouvir.
Por Redação do GazetaMetropolitana.com
