Pais São Presos em Sorocaba Após Denúncia Anônima; Criança Apresenta Sinais Graves de Negligência e Nunca Teve Acesso a Educação ou Saúde
Sorocaba, 05 de setembro de 2025 – Uma menina de seis anos foi resgatada de um cárcere privado imposto pelos próprios pais em uma residência no Jardim Santa Esmeralda, em Sorocaba (SP), após uma denúncia anônima. A criança, que nunca saiu de casa, frequentou escola ou recebeu cuidados médicos, estava “muito apática” e ficou “deslumbrada com o mundo” ao ser libertada. Os pais, uma mulher de 45 anos e um homem de 54, foram presos em flagrante na quinta-feira (4) e respondem inicialmente por cárcere privado.
A operação de resgate ocorreu na tarde de quinta-feira, coordenada pela Polícia Civil por meio da Delegacia de Defesa da Mulher (DDM). A menina foi encontrada em condições precárias: desnutrida, alimentada apenas com líquidos e sem consumir comida sólida, com o cabelo em um único nó, como se nunca tivesse sido lavado – o que exigiu que fosse cortado. Segundo a conselheira tutelar Lígia Guerra, em entrevista à TV TEM, a criança não sabe falar, emitindo apenas sons, e demonstrou espanto ao ver o exterior. “Ela ficou deslumbrada com tudo, com o mundo, como se nunca tivesse saído da casa. Todos os direitos dela foram violados. Ela nunca conviveu com outras crianças”, relatou Lígia.
De acordo com a delegada titular da DDM, Renata Zanin, a mãe “parece não entender a gravidade da situação” durante o interrogatório. A Polícia Civil confirmou que a criança nunca teve acesso a vacinação, atendimento de saúde ou educação formal. Três celulares foram apreendidos na residência para perícia, com o objetivo de investigar possíveis evidências adicionais. “A partir da devolutiva dos médicos, vamos determinar o que aconteceu com a criança e o que ela vai carregar pro resto da vida dela”, explicou a delegada.
O caso expõe um cenário alarmante de negligência extrema, comum em relatos de violência contra crianças no Brasil. Segundo o Atlas da Violência 2025, o país registrou um aumento de 36% nas notificações de agressões físicas, psicológicas, sexuais e negligência contra menores em 2023, com 13 vítimas por hora entre crianças e adolescentes de até 19 anos. Especialistas apontam que casos como esse, de isolamento total, violam o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), que garante direitos básicos como educação e saúde. Em Sorocaba, o Conselho Tutelar registra anualmente dezenas de denúncias semelhantes, mas este se destaca pela duração do confinamento.
A menina foi encaminhada imediatamente ao Conselho Tutelar, acolhida em um abrigo municipal e submetida a exames no Conjunto Hospitalar de Sorocaba (CHS) para avaliar seu estado físico e psicológico. Profissionais de saúde preveem um longo processo de recuperação, incluindo terapia para desenvolvimento da fala e socialização. “Ela precisou cortar o cabelo e está sendo monitorada de perto”, acrescentou Lígia Guerra.
Os pais permanecem detidos temporariamente por 30 dias e passaram por audiência de custódia nesta sexta-feira (5). A investigação prossegue, com possibilidade de inclusão de outras acusações, como maus-tratos ou abandono intelectual. A Polícia Civil apela para que a população denuncie casos suspeitos via Disque 100 ou delegacias locais, reforçando que o anonimato é garantido.
Esse episódio reacende debates sobre a proteção infantil no Brasil, onde, conforme o UNICEF, regiões como a Amazônia registraram 31 mil casos de violência sexual contra crianças e adolescentes entre 2021 e 2023. Autoridades de Sorocaba afirmam que o resgate foi um “sucesso inicial”, mas enfatizam a necessidade de acompanhamento contínuo para reintegrar a criança à sociedade. O caso continua sob sigilo para preservar a identidade da vítima.
Por Redação do GazetaMetropolitana.com